Aquisição de imóveis requer cautela em 2015
Tapai Advogados | Em 5 de janeiro de 2015
Quem está aguardando o momento certo para comprar o imóvel vai encontrar, em 2015, um cenário complexo. De um lado, pesa o contexto econômico, influenciado, sobretudo, pela alta da taxa de juros. Do outro, há o apetite de venda do mercado imobiliário ainda mais acentuado por conta dos resultados abaixo da expectativa em 2014. Assim, a perspectiva é de que em 2015 aumentem as promoções, descontos e bônus para os que fecharem negócio, porém, a perspectiva, porém, os financiamentos podem se tornar uma dor de cabeça a longo prazo.
Segundo pesquisa realizada pela Ricam Consultoria em parceria com o Instituto Ilumeo, em novembro, 46% dos entrevistados interessados em comprar imóvel pretendem fazer a aquisição nos próximos dois anos e o financiamento é a opção para 89% deles, provando que o cenário econômico ainda não aparece como impeditivo para a realização do sonho.
“A necessidade do imóvel não muda de acordo com a conjuntura econômica. Mesmo com as incertezas de 2014, vendemos bem”, destaca o diretor regional da Rossi, Gustavo Kosnitzer, mencionando que embora o comprador não desista da aquisição, pode adequar a compra à realidade financeira, optando, por exemplo, por uma residência menor do que a pretendida. A demanda continua aquecida e o ritmo de vendas em Porto Alegre mantém o fôlego, sustenta Kosnitzer, que defende o ponto de vista ressaltando que a Rossi teve um ano bom, apesar do cenário incerto. “O Central Parque (bairro projetado pela Rossi em Porto Alegre) está sendo um sucesso de vendas”, diz.
Esse direcionamento mostra que o brasileiro está atento aos preços e tem buscado, cada vez mais, melhores opções para concretizar a compra. E quanto aos preços, a percepção de 70% dos entrevistados para a pesquisa sobre o mercado imobiliário é de que os valores dos imóveis estão muito altos — condição que pode levar 16% dos pretensos compradores a desistirem do negócio. “O comprador está muito atento, cada vez mais”, dimensiona Gilberto Cabeda, vice-presidente de comercialização do Secovi-RS.
Segundo ele, esse nível de atenção está tão apurado que construtoras paulistas já estão colocando nos anúncios o preço do metro quadrado da área privativa. “Agora estão dando até esse elemento para o comprador averiguar a viabilidade da compra e essa tendência logo deve ser notada no mercado gaúcho.”
Cabeda revela que o comprador do imóvel está fazendo mais comparações e, também, negociando mais. Esta última característica tem influenciado no ritmo de vendas. “A nossa percepção quando olhamos o indicador de velocidade de venda é que ele aumentou em 2014, sinalizando que está havendo negociações mais prolongadas”, constata Lucas Vargas, vice-presidente comercial do portal imobiliário Viva Real.
De acordo com Vargas, esse também é o sinal da insegurança dos compradores. “É uma mudança no paradigma. Antes, era comum vender lançamentos em um fim de semana e, hoje, tem ficado muita coisa em estoque.” E é justamente isso que leva às condições favoráveis para os compradores. “O estoque, naturalmente, resulta em promoção, como qualquer demanda. A gente acaba usando a comunicação e a estratégia de desconto ou de facilitação da compra”, concorda Kosnitzer.
Capacidade de pagamento deve ser avaliada
Vantagem mesmo encontrará quem estiver com dinheiro na mão para fazer a aquisição sem recorrer aos financiamentos, salienta Adolfo Sachsida, economista do Ipea. Esse grupo, no entanto, é composto por uma minoria. Segundo a pesquisa feita pela Ricam Consultoria em parceria com o Instituto Ilumeo, quase 90% dos pretensos compradores de imóveis devem recorrer ao financiamento e 61% deles pretendem dar uma entrada de, no máximo, 20% do valor do bem.
O comprometimento da renda em um cenário de alta de juros — que pode impactar na alta da Taxa Referencial (TR), uma das principais taxações do Sistema Financeiro da Habitação, e na oferta de crédito — sinaliza para a perspectiva de alta da inadimplência, avalia Sachsida.
O economista reforça que 2015 pode ser um ano complicado para os financiamentos, que exigirão cautela redobrada na hora da contratação, sendo imprescindível, sobretudo, averiguar o percentual de comprometimento da renda mensal.
Contabilizando resultados ruins e aumento dos distratos (desistência da compra do imóvel na planta por parte do comprador), as construtoras podem registrar atrasos na entrega dos imóveis, projeta o advogado Marcelo Tapai, sócio do escritório Tapai Advogados. Ele recomenda que na análise da compra, seja observado, com atenção, o histórico de atrasos da empresa. “Antes de comprar um imóvel, certifique-se que a construtora tem um bom histórico financeiro, tradição e seriedade”, alerta Tapai.